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formação Continuada dos Pais

Transpor Limites: Maturidade e Exce   



[...] Assim como "interesse" não é sinônimo de curiosidade, também não é de "prazer imediato". "Primeiro, é preciso saber entediar-se", o que não deve ser interpretado como elogio ao desprazer, mas como alerta de bom senso: os genuínos interesses representam, na verdade, projetos mais ou menos complexos de vida e, para alcançá-los, os caminhos nem sempre são agradáveis. Voltemos ao exemplo da curiosidade: o que é curiosidade se não a consciência de não saber, a consciência do limite que se quer transpor? E o que são as diversas formas de interesse se não a consciência de estar do lado de cá de uma fronteira que se quer atravessar? Portanto, despertar a curiosidade nos alunos significa dizer-lhes: "Há coisas que vocês podem saber e que ainda não sabem: há um mundo de tesouros ali na frente, e vocês podem ir até lá pegá-los, mas, para isso, devem, antes, aprender tais e tais coisas". O mesmo é válido para toda e qualquer forma de interesse. "Você quer se alfabetizar para ajudar seus pais? Ótimo. Então, vamos caminhar". E o aluno interessado não poupará esforços e saberá se entediar se for preciso. Transporá seus limites.
Mas se, em vez de apontar para futuras conquistas, perguntarmos aos nossos alunos o que lhes dá mais prazer imediato, o que, alegremente, podem consumir "aqui e agora", estaremos, na verdade, passando a seguinte mensagem: "Não vamos levá-los ao lado de lá da fronteira, mas trazer o que se encontra daquele lado até vocês. Não precisam fazer esforço para caminhar, não precisam sair do lugar: o mundo vem até vocês". A montanha irá até Maomé. Mas a que preço! A montanha vira colina. A cultura se infantiliza. O grande fica pequeno. E o preço, mais caro: a criança é desestimulada a erguer-se acima de sua condição infantil. Se todos os adultos engatinham à sua frente, para que ela precisa andar?
O interesse em geral e a curiosidade em particular são coisas preciosas demais para serem confundidas com prazer imediato ou motivação lúdica. A curiosidade move, o interesse antecipa, mas a diversão repousa. Penar sobre três linhas de Fernando Pessoa é mais rico que se divertir com um almanaque inteiro de Walt Disney. E a maioria das crianças está disposta a esse esforço: basta que associemos esse trabalho, não ao desprazer, mas ao crescer. É por essa razão que os alunos costumam elogiar os professores que dão aulas "puxadas"; reclamam, assim, da dificuldade, mas reconhecem seu valor. Aliás, a metáfora "puxar" é perfeita para nosso tema: significa, justamente, levar alguém para além de onde está. O bom professor (também vale para os pais) "puxa" seus alunos, levando-os para além de seus desejos momentâneos e de seus conhecimentos ainda lacunares. [...]

Trecho do Livro "Limites: três dimensões educacionais", de Yves de La Taille.